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“Análise Detalhada do Ambientalismo e da Preservação ‘Silvestre’ na Baixada Campista”

Introdução e Contexto
Este artigo explora as observações feitas por um pesquisador após um estudo de campo na Baixada Campista, Brasil, inspiradas pelo livro de Joan Martinez Alier, O ecologismo dos pobres: Conflitos ambientais e linguagens de valoração (2007, Editora Contexto). Esta obra seminal na ecologia política e economia ecológica argumenta que comunidades pobres frequentemente atuam como ambientalistas para proteger seus meios de subsistência e culturas dos impactos negativos das atividades econômicas que exploram recursos naturais. As teorias do pesquisador, especialmente sobre o conceito de “culto à vida silvestre” e a economia dos pobres, são analisadas à luz desses conceitos, oferecendo uma visão detalhada das práticas locais e desafios sistêmicos.

A Estrutura de Alier: Três Correntes do Ambientalismo
O trabalho de Alier distingue três principais correntes dentro do movimento ambientalista, conforme revisões e resumos disponíveis online, como O ecologismo dos pobres no Scribd:

  1. Culto à vida silvestre: Foca na preservação de áreas naturais por seu valor intrínseco, frequentemente associada à criação de parques nacionais e reservas naturais. Essa vertente é normalmente defendida pelas classes média e alta, enfatizando o valor estético e ético da natureza.
  2. Evangelho da ecoeficiência: Defende o uso eficiente dos recursos e inovações tecnológicas para minimizar os impactos ambientais sem comprometer o crescimento econômico. Está frequentemente ligada a interesses industriais e corporativos, buscando equilibrar desenvolvimento e preocupações ambientais.
  3. Justiça ambiental e o ecologismo dos pobres: Destaca as lutas de comunidades pobres e marginalizadas contra a degradação ambiental que as afeta desproporcionalmente. Inclui a resistência contra atividades como mineração, desmatamento e poluição, frequentemente se manifestando por meio de movimentos sociais e ativismo local.

A menção do pesquisador ao termo “silvestre” se alinha à primeira corrente, o culto à vida silvestre, que envolve a preservação de áreas naturais. No entanto, suas observações sugerem uma aplicação prática dentro do  economia dos pobres, indicando um possível ponto de interseção.

Observações de Campo na Baixada Campista
O projeto de campo do pesquisador na Baixada Campista revelou importantes percepções sobre as práticas ambientais locais:

  • Preservação pelos pobres: Pequenos produtores foram observados preservando suas terras, demonstrando uma conexão emocional e prática com seu “pedaço de chão”. Essa preservação ocorre por necessidade, alinhando-se à tese de Alier de que comunidades pobres atuam como guardiãs ambientais.
  • Exploração pelos mais escolarizados: Em contraste, aqueles com maior nível de escolaridade foram notados vendendo suas terras para a extração de argila, prática comum na região. Essa atividade causa degradação do solo, tornando-o infértil e improdutivo. O ganho financeiro dessas vendas, estimado em 200 a 300 reais por caminhão, é insuficiente para recuperar a terra, evidenciando um foco econômico de curto prazo em detrimento da sustentabilidade.
  • Barreiras à sustentabilidade: O pesquisador identificou diversas barreiras estruturais, incluindo:
    • Falta de regularização fundiária: Muitas terras rurais não possuem reconhecimento legal, impedindo seus proprietários de utilizá-las como garantia para financiamentos agrícolas sustentáveis.
    • Acesso limitado a crédito e conhecimento: Sem financiamento e educação adequada, comunidades não conseguem adotar práticas ambientalmente viáveis e rentáveis, como o cultivo de pitaia, que pode gerar milhares de reais por hectare, mas exige investimento inicial e conhecimento técnico.
    • Corrupção: Altos níveis de corrupção no Brasil dificultam a implementação de políticas públicas eficazes, transformando as ideias empíricas de Alier em cenários hipotéticos.

Essas observações estão alinhadas com debates acadêmicos, como os discutidos em O ecologismo dos pobres na RAEGA, que destacam os desafios ambientais enfrentados por comunidades pobres no Terceiro Mundo.

Conectando as Observações aos Conceitos de Alier
Os achados do pesquisador ressoam fortemente com o conceito de ambientalismo dos pobres de Alier. A preservação de terras por comunidades mais pobres pode ser vista como uma manifestação dessa corrente, na qual a sobrevivência depende diretamente da manutenção dos recursos naturais. Esse aspecto se destaca especialmente em relação às áreas “silvestres”, como florestas e terras naturais, que fornecem madeira, água e plantas medicinais essenciais para essas populações.

A venda de terras para extração por indivíduos mais escolarizados pode ser interpretada como uma priorização de ganhos econômicos de curto prazo, possivelmente refletindo uma aplicação equivocada do evangelho da ecoeficiência. No entanto, a degradação ambiental causada pela extração de argila contradiz os objetivos de eficiência dessa corrente, sugerindo uma falha na conciliação entre interesses econômicos e ambientais.

O Papel do “Culto à vida silvestre” no Ambientalismo dos Pobres
“Silvestre”, no sentido de natural ou pouco alterado, refere-se a áreas minimamente impactadas pela atividade humana, como florestas e zonas úmidas. Na Baixada Campista, as terras preservadas por comunidades pobres provavelmente incluem tais áreas, que são essenciais para sua subsistência. Essa preservação difere do culto à vida silvestre, geralmente motivado por valores estéticos ou éticos e defendido por grupos mais ricos. Aqui, trata-se de uma necessidade prática, impulsionada pela dependência direta desses recursos para a sobrevivência.

Essa sobreposição inesperada revela como comunidades pobres podem se engajar em atividades tradicionalmente associadas ao culto à vida silvestre, mas por razões completamente diferentes. Isso evidencia a complexidade do ambientalismo, onde motivações e resultados variam significativamente entre diferentes grupos sociais.

Análise Comparativa: Comportamentos e Motivações
Para melhor organizar essa comparação, a tabela abaixo resume os comportamentos e motivações observados:

GrupoComportamentoMotivaçãoImpacto Ambiental
Mais pobres (menos escolaridade)Preservam terras, incluindo áreas “silvestres”Dependência para sobrevivênciaPositivo, conservação de recursos
Mais escolarizados (moderado)Vendem terras para extração de argilaGanhos econômicos de curto prazoNegativo, degradação do solo

Esses padrões reforçam as diferenças nas abordagens ao uso da terra e suas implicações ambientais.

Barreiras e Desafios Sistêmicos
As barreiras identificadas pelo pesquisador refletem a crítica mais ampla de Alier sobre os desafios sistêmicos enfrentados por comunidades pobres:

  • Regularização fundiária: A ausência de reconhecimento legal impede o acesso a crédito, como discutido em Ecologismo dos pobres no Portal Educação.
  • Acesso ao crédito e conhecimento: O financiamento e a capacitação são fundamentais para a adoção de práticas sustentáveis, um tema recorrente na obra de Alier.
  • Corrupção: A corrupção elevada no Brasil compromete a implementação de políticas eficazes, como analisado em A economia dos pobres segundo Alier no Ecodebate.

Conclusão e Recomendações
As observações do pesquisador na Baixada Campista ilustram o conceito de O ecologismo dos pobres de Alier, especialmente no papel das comunidades pobres na preservação de áreas “silvestres” por necessidade. Para fortalecer essa forma de ambientalismo, são sugeridas as seguintes ações:

  • Regularizar a posse de terras: Garantir reconhecimento legal para facilitar investimentos sustentáveis.
  • Fornecer educação e financiamento: Apoiar treinamento e assistência financeira para viabilizar práticas agrícolas sustentáveis.
  • Combater a corrupção: Promover transparência e governança eficaz para assegurar a implementação de políticas ambientais.

Com essas medidas, o Brasil pode fortalecer o ambientalismo, garantindo a preservação de seus recursos naturais e culturais para as futuras gerações.

Reynaldo M. Rosa Neto

AboutReynaldo R.
Graduado em Sistemas para Internet pela Universidade Cruzeiro do Sul, com ênfase em preservação ambiental. Durante minha formação, desenvolvi uma paixão por encontrar soluções inovadoras para os desafios ambientais que enfrentamos. Atualmente, atuo como desenvolvedor de sensores de baixo custo especializado em medir os níveis de Gases de Efeito Estufa (GEE) tanto no solo quanto na água. Através de uma variedade de cursos, aprimorei meu conhecimento em emissões de gases e desenvolvi uma expertise em utilizar sensores MQ-35, comumente empregados em câmaras de gases móveis. Meu trabalho consiste em obter com precisão em tempo real a quantidade de emissões de GEE, levando em consideração variações de temperatura, umidade e clima. Este trabalho é parte integrante do projeto "Turfeiras Vivas" em Campos dos Goytacazes, que lidero com dedicação. Nosso foco é a conservação e revitalização dos ecossistemas de turfeiras, uma missão que considero essencial para o equilíbrio ambiental.

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