Contribua para a Preservação das Turfeiras em Campos dos Goytacazes: Doe Agora

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As cheias das bacias hídricas no norte fluminense – À espera de uma renovação para os Guaitacá – Parte I

 

Texto retirado de antigos manuscritos sobre as tribos locais da cidade de Campos dos Goytacazes. No texto a seguir, as tribos discutem as cheias do rio Paraíba do Sul.

Será que setembro trará “nhaman” (água; chuva)? Outubro dançará com honras de alegria quando começar o grande “nhaman garénon daigran” (dilúvio, inundação)? Ainda que demore, certamente novembro não ficará desanimado? Dezembro encherá as suas “nhamen-multy” (tigelas, igaçabas)!
As chuvas começam na primavera. É nesse período que o rio Paraíba do Sul, o Grande “Banani”, agradece pela honra de receber a chuva. Até então, a campina não vertia lágrimas , estava sedenta, quase sem vida. Os lençóis freáticos alimentavam os corpos d’água que ainda restavam. O céu celebrou, saudou a pomposa chegada das nuvens. Como é lindo ver o Grande Banani transbordar e as águas fluírem livremente pela planície! “Ténu a hy” (gratidão) – os corações dos bravos guerreiros enchem-se de gratidão. Todos estão contentes com as chuvas e as cheias do rio Paraíba do Sul, o Grande Banáni, e do rio Ururaí. A Lagoa Grande, “o grande mar de água doce” (MALDONADO; PINTO, 1893) é como uma mãe que alimenta suas lagoas-filhas no seu entorno. Em dezembro, ela diz: “Ténu a hy”, ao Grande Banáni e ao Ururaí por enchê-la novamente.
[Continua]
*nhaman garénon daigran, inundação; dilúvio
https://macotshoteon.blogspot.com/2024/07/nhaman-garenon-daigran.html?m=1
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Projeto de Resgate Cultural, Histórico e Sócio-Ambiental: “Aldeia Goitacá

O objetivo deste projeto é resgatar e valorizar as memórias, os hábitos, as práticas, os valores e pensamentos dos antigos Goitacá e seus descendentes ou parentes, promovendo a preservação cultural e ambiental.
 

Cultura Material

1. Cerâmica da Tradição Una: Reproduzir peças de cerâmica seguindo os achados arqueológicos, destacando formas, padrões e funções.

2. Artesanato – Colares: Confecção de colares com miçangas, sementes, conchas e vértebras de tubarões (ou materiais similares), inspirados nas escavações arqueológicas no sítio do Caju.

3. Aljava, Arcos e Flechas: Produção de aljavas, arcos e flechas, replicando os métodos tradicionais de fabricação. 

4. Desenhos e Pinturas: Criar desenhos e pinturas de indígenas entesando o arco, cercando tubarão, nadando em direção às choças lagunares ou saindo delas, etc – todas as ilustrações baseadas nos relatos históricos de Simão de Vasconcelos (1658). Saudação Goitacá – Ilustrações: Desenhos e pinturas que retratam a saudação Goitacá de tocar ou cruzar os arcos, a dança de boas-vindas dos Goitacá-Guaçu (VASCONCELOS, 1658) e os saltos acrobáticos dos Goitacá da Aldeia da Ilha do Pontal do Capivari (MALDONADO; PINTO, 1893).

4.1 Grafismo dos Povos Jê: Produzir obras que mostram os grafismos tradicionais dos povos Jê, incluindo círculos, pontos e traços paralelos. 

5. Jangadas e Redes de Pesca: Reconstruir jangadas tradicionais usando técnicas e materiais locais.  Redes de Pesca: Fabricação de redes de pesca e pesos de rede seguindo os achados arqueológicos e o roteiro de viagem dos sete capitães (MALDONADO; PINTO, 1893). 

6. Artesanato com Fibras Naturais – Taboa e Fibras de Palmeiras: Produção de cestos, esteiras,  pequenas choças e outros artefatos utilizando a taboa e matéria-prima extraída das palmeiras.

6.1 Cordas de Tucum: Fabricação de cordas com folhas de tucum para uso em arcos e outras amarrações.

Metodologia

1. Oficinas – Promover oficinas com artesãos e descendentes Goitacá para ensinar e disseminar técnicas tradicionais de fabricação. – Utilizar tecnologias modernas para criar réplicas precisas de artefatos antigos.

2. Exposições e Eventos – Organizar exposições para apresentar os resultados do projeto, incluindo peças de cerâmica, artesanato, pinturas etc

3. Educação e Sensibilização – Desenvolver materiais educativos e atividades interativas, para escolas e comunidades. – Sensibilizar a população sobre a importância da preservação cultural e ambiental através de campanhas e palestras.

Resultados Esperados – Preservação Cultural: Resgate e valorização das tradições culturais dos Goitacá, promovendo seu reconhecimento e respeito. – Educação e Conscientização: Aumento do conhecimento sobre a história e cultura dos Goitacá entre jovens e adultos. – Desenvolvimento Sustentável: Incentivo ao uso sustentável de recursos naturais locais, promovendo o artesanato e o turismo cultural.

   Esse projeto busca não apenas a preservação cultural, mas também a integração social e ambiental, promovendo um desenvolvimento sustentável baseado na valorização do patrimônio imaterial dos Goitacá.

Referências

 1- VASCONCELOS, Simão de. Vida do P. Joam d’Almeida da Companhia de Iesu, na Provincia, composta pello padre Simão de Vasconcellos da mesma Companhia, provincial na dita provincia do Brazil. Dedicada ao Senhor Salvador Correa de Sá, & Benavides dos Conselhos de Guerra, & Ultramarino de Sua Magestade. Lisboa: Oficina Craesbeeckiana, 1658. Disponivel em: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/671. Acesso em 13 junh. 2024.

2- MALDONADO, Miguel Ayres e PINTO, Jozé de Castilho. Descripção que faz o Capitão Miguel Ayres Maldonado e o Capitão Jozé de Castilho Pinto e seus companheiros dos trabalhos e fadigas das suas vidas, que tiveram nas conquistas da capitania do Rio de Janeiro e São Vicente, com a gentilidade e com os piratas n’esta costa. Revista do Instituto Histórico e Geographico do Brasil, tomo LVI. Rio de Janeiro: Companhia Typographica do Brazil, 1893. Disponível em:https://books.google.com.br/books?id=AGFKAQAAMAAJ&newbks=1&newbks_redir=0&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false . Acesso em 13 junh. 2024.

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Tacúen: Em Busca do Paraíso Terrestre – Um Estudo Antropológico Comparativo entre os Povos Puri, Coroado e Guarani

O estudo antropológico das línguas puri e coroado revela uma visão que ecoa os conceitos dos guaranis. Assim como estes últimos, os puris também compartilhavam a crença em um paraíso (tacúen) terrestre (SPIX & MARTIUS, 1823, p.375). Mas onde? Qual era o local exato no vasto globo terrestre? De acordo com os guaranis, esse paraíso residia na região onde o sol nasce. É notável que no idioma coroado exista uma palavra composta, hopé nhiram. Hopé traduz-se como “sol”. Quanto à palavra nhiram, não possui um significado específico, contudo, segundo a tradução de Eschwege (1830, p. 240) e Martius (1867, p. 204), esses dois termos se referem à região onde o sol nasce, ou seja, o oriente. Quando os imigrantes indígenas — tupis, guaranis e goitacás — alcançaram o litoral brasileiro, testemunharam diariamente o espetáculo do nascer do sol sobre o oceano Atlântico. Poderiam eles ter pensado que haviam finalmente encontrado o tão desejado tacúen (“terra sem mal”, para os tupis e guaranis), ou será que imaginavam que este se situava além-mar? Será que os guaranis realmente descobriram a tão almejada “terra sem mal”? Os goitacás, ao encontrarem uma vasta planície alagadiça no norte fluminense, de difícil acesso e onde podiam se proteger de ataques inimigos, poderiam ter acreditado ter encontrado o tacúen. Além disso, a abundante fauna da região oferecia um rico banquete de caça: cervídeos, capivaras, porcos do mato, peixes, aves, entre outros. “Aqui é o lugar! Encontramos o tacúen!”, ecoavam, provavelmente, os indígenas.

 

Coautor: Tutschay Nhiram, descendente dos indígenas do Norte Fluminense. Contato

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